A busca por sistemas fotovoltaicos cresceu de forma exponencial no Brasil, impulsionada pelo desejo de economia, sustentabilidade e independência energética. No entanto, enquanto muitos consumidores concentram sua atenção na escolha das marcas de inversores e módulos, as pesquisas mostram que o verdadeiro diferencial está na execução técnica da instalação.
Estudos nacionais e internacionais indicam que a maioria das falhas em sistemas solares é causada por erros de instalação, e não por defeitos de fabricação. Ou seja, a confiabilidade de um sistema fotovoltaico depende muito mais da qualificação técnica da equipe executora do que do nome estampado nos equipamentos.
O que dizem os dados sobre falhas em energia solar
Um estudo do National Renewable Energy Laboratory (NREL), que avaliou mais de 100 mil sistemas fotovoltaicos nos Estados Unidos, mostrou que cerca de 70% das falhas relatadas estão relacionadas à instalação — enquanto os defeitos de fabricação em módulos fotovoltaicos representam menos de 0,05% ao ano.
Outro levantamento, publicado na revista científica Nature, analisou 3,3 milhões de módulos fotovoltaicos no Reino Unido. O estudo revelou que 36,5% apresentavam defeitos térmicos como pontos quentes e substrings aquecidas, que comprometem diretamente o desempenho e a vida útil dos sistemas.

As principais falhas em instalações fotovoltaicas
Diversos estudos técnicos e auditorias de campo mostram que as causas mais recorrentes de mau desempenho em sistemas solares estão diretamente ligadas à instalação. Entre as mais comuns, destacam-se:
1. Conectores MC4 mal crimpados
Conectores inadequadamente montados geram pontos de alta resistência elétrica, causando aquecimento, perdas de eficiência e até risco de incêndio. O NREL aponta que “hot spots” representam uma das principais causas de degradação em módulos modernos, frequentemente associadas à execução incorreta.
2. Cabeamento subdimensionado
Cabos que não seguem o dimensionamento correto de corrente e temperatura, conforme a ABNT NBR 5410, podem causar perdas de até 10% na geração total. Além disso, geram aquecimento e desgaste prematuro dos condutores.
3. Aterramento e proteção elétrica insuficientes
A Portaria Inmetro nº 515/2023 definiu novos requisitos para proteção contra arcos elétricos em inversores fotovoltaicos. A ausência de aterramento adequado é uma das principais causas de falhas e riscos em sistemas solares.
Fonte: Inmetro Portaria 515/2023
4. Estrutura de fixação mal executada
A ABNT NBR 6123 exige que as estruturas resistam a ventos de até 150 km/h. Fixações improvisadas, subdimensionadas ou sem reforço podem gerar desprendimentos e acidentes. Estudos da UFSC também destacam riscos estruturais em sistemas mal dimensionados.
5. Comissionamento inexistente ou incompleto
O comissionamento técnico garante que o sistema opere dentro dos parâmetros esperados. O NREL demonstra que sistemas com comissionamento adequado têm degradação média de 0,5% ao ano, contra até 3% em sistemas sem verificação formal.

Falhas de equipamento x falhas de instalação
Pesquisas da Greener e do NREL apontam que os defeitos de fabricação de módulos representam uma fração mínima das ocorrências. Já falhas em inversores (como relés e IGBTs) muitas vezes têm origem em condições inadequadas de instalação, como exposição direta ao sol, superaquecimento e falta de ventilação.
No Brasil, auditorias do Inmetro têm identificado módulos com potência inferior à declarada e instalações realizadas sem ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) — um indicador de que a pressa e a falta de padronização técnica ainda comprometem o desempenho do setor.
Capacitação técnica: o verdadeiro diferencial
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) reforça que o crescimento rápido do mercado atraiu profissionais sem formação adequada. Por isso, lançou o Programa Qualidade Absolar, voltado à certificação de instaladores e integradores segundo critérios técnicos de desempenho e segurança.
Fonte: Programa Qualidade Absolar
Empresas que priorizam treinamento contínuo, uso de normas ABNT e comissionamento documentado entregam sistemas com desempenho previsível, longevidade superior e menor taxa de manutenção. Já aquelas que competem apenas por preço acabam criando custos ocultos para o cliente — como retrabalhos, manutenções corretivas e substituição prematura de equipamentos.
Equipamentos importam, mas execução define o resultado
Inversores e módulos de qualidade, com certificação Inmetro e garantias sólidas, são essenciais. Contudo, um sistema solar é um conjunto integrado: mesmo os melhores equipamentos podem falhar se a instalação for mal executada.
Por isso, a análise de uma proposta de energia solar deve considerar critérios como:
- Existência de ART assinada por engenheiro responsável.
- Treinamento técnico formal e certificações reconhecidas.
- Documentação de comissionamento e medições elétricas.
- Garantia da instalação, além da garantia dos equipamentos.
- Conformidade com normas ABNT e portarias do Inmetro.
Esses fatores dizem muito mais sobre a qualidade do sistema que será entregue do que a simples marca dos equipamentos escolhidos.
Conclusão: qualidade de execução é o que define o desempenho
A energia solar fotovoltaica é uma tecnologia madura e confiável. Mas para que o investimento gere os resultados esperados — eficiência, durabilidade e retorno financeiro — é indispensável rigor técnico na execução.
Empresas que tratam cada projeto como engenharia, e não como simples montagem, entregam sistemas que mantêm desempenho constante por décadas.
O sucesso de um sistema fotovoltaico não depende do logotipo impresso no inversor — depende da qualidade da instalação e da competência de quem o executa.